FANTASIA
Fantasia é a representação agradável da realidade e da imaginação.
Existe a realidade que é tudo o que existe. Existe a imaginação que é tudo o que imaginamos, mas que não existe. Existe a ilusão que é tudo o que não existe, mas que parece que existe. E existe a fantasia que é tudo o que existe representado.
E como é representado por nós humanos, é normalmente agradável. Agradável não só no sentido do belo, mas também no sentido do curioso. É tanto fantasia a beleza no “Nascimento de Vénus” de Botticelli, como a curiosidade na “Tentação de Santo Antão” de M. Bosch, ou “O Triunfo da Morte” de Bruegel. A fantasia é agradável porque permite o esquecimento do sofrimento natural da vida, ao sermos transportados para um mundo irreal, em que existe o entretenimento ou o aperfeiçoamento espiritual.
É fantasia tudo o que o homem cria para seu bel-prazer — toda a criação artística. A arte é algo representado que nasceu no espírito criador do artista, elevando-o na forma de se expressar aos outros e ao mundo, e é também algo que os outros sentirão como uma chamada ao seu próprio espírito, na contemplação da obra criada. A fantasia é toda a representação artística da realidade ou da imaginação. A transposição de uma paisagem para a tela é uma fantasia proveniente da realidade. Uma pintura abstracionista é usa fantasia proveniente da imaginação. Uma pintura surrealista é uma fantasia mesclada de realidade e imaginação.
A fantasia confunde-se muitas vezes com e realidade, nomeadamente através da literatura, onde existem muitas obras antigas cujas referências se perderam, desvalorizaram ou transformaram, mas sendo o seu conteúdo de tal forma influente que muitos se orientam por essas fantasias do passado para criarem autênticas realidades no presente. Por outro lado, toda a fantasia está envolta num clima misterioso e místico. Muitas vezes não se sabe como determinada obra nasceu, nem mesmo o seu criador, e esse mistério atrai também, pois coloca a arte algures entre o mundo material e o mundo espiritual, fazendo a ponte de ligação.
Apesar da fantasia ser algo que não existe realmente — o que existe é a sua representação — a influência que ela tem nas pessoas é muito significativa, pois proporciona a criado de novas realidades. O cinema e os filmes, os livros e as letras, o teatro e os actores, são tudo realidades — coisas que existem como suportes da fantasia — mas as histórias e os enredos que se representam nessas formas de expressão não existem realmente — são a pura fantasia — no entanto, as ideias e as mensagens que se passam através dessas representações são reais, e podem criar efeitos reais, tanto em quem as recebe, como em quem as emite devido ao retorno, como em todas as formas de emissão e recepção de mensagens.
A grande diferença é que a fantasia, devido à sua subtileza, permite um alargamento no campo da liberdade de criação e de expressão, que não seria possível nem permitido na sociedade humana, limitada e preconceituosa.
A fantasia tem também um papel determinante no desenvolvimento infantil. As crianças não são capazes de perceber a realidade, pois esta é demasiado complexa — até para os adultos — sendo a fantasia uma espécie de suavizador que permite que pelo menos parte da realidade seja compreendida.
Quase todas as histórias, contos e lendas infantis são mentira, mas as crianças percepcionam-nas como realidade. Para elas, todas essas histórias são verdade. E são verdade por dois motivos: por um lado são facilmente compreensíveis — são histórias simples que não exigem esforço mental porque não exigem recurso à realidade concreta; por outro lado têm sempre um fundo de verdade — transmitem um conjunto de informações que apelam à realidade — um tempo; um espaço; pessoas; animais — e por isso são facilmente aceitáveis por elas.
Mas o papel principal da fantasia nas crianças é que transmite sempre uma mensagem, uma lógica, que apesar de inserida num contexto irreal será determinante para a compreensão posterior da realidade.
O problema surge quando a criança já não é criança e continua a não distinguir a fantasia da realidade: vive no sonho, vive feliz — mas se acordar!...