INCONSCIENTE
Entende-se por inconsciente toda a actividade existente no nosso cérebro que está fora do nosso domínio racional.
Tudo aquilo que nós fazemos sem nos apercebermos que estamos a fazer, tal como respirar, ver, ouvir, tactear, cheirar, saborear, dormir, sonhar, etc; e todos os sentimentos físicos e emocionais como sentir dor, sentir frio e calor; sentir fome, sede e sono; sentir cansaço, comichão e arrepios; sentir admiração, medo e repugnância; corar, transpirar, tremer, suspirar, bocejar e chorar; sentir prazer e ódio; sentir gosto, desejo, saudade e compaixão; sentir amor; sentir constrangimento, arrependimento e orgulho; sentir excitação e alegria, depressão e tristeza; tudo isto e muito mais são reacções produzidas no nosso corpo devido a ordens dadas pelo nosso cérebro inconscientemente, embora posteriormente possamos ter consciência disso.
Os sentidos podem ser usados por nós conscientemente ou inconscientemente — podemos procurar uma coisa para a ver ou podemos ver uma coisa que nos desperta interesse sem a termos procurado — mas os sentimentos, sensações ou emoções são reacções originadas inconscientemente. É o inconsciente existente no cérebro que determina o limite máximo de temperatura que o corpo pode receber, e ao atingir esse limite “dispara um alarme” que avisa a consciência que se tem que evitar o calor. Assim como para todos os limites do corpo. Se não obedecermos conscientemente às ordens vindas do cérebro — produzidas do inconsciente para o consciente — acabamos por obedecer inconscientemente e inconscientes. O nosso inconsciente domina o nosso consciente e o consciente tem que respeitar as ordens vindas do inconsciente. Se o inconsciente nos diz “não podes mais”, e nós conscientemente dizemos “ainda posso mais”, poderemos ainda mais certamente, porque o inconsciente avisa-nos com uma margem de segurança, mas se continuarmos a insistir, o inconsciente continua-nos a avisar, e, ou paramos enquanto é tempo de recuperar ou atingimos os limites e ficamos inconscientes, ou podemos até morrer.
O inconsciente humano é formado por duas grandes vertentes sentimentais. Existem os sentimentos físicos que são memorizados no inconsciente através dos sentidos e que provêm da natureza, do homem como animal, irracionalmente e inconscientemente — como a dor, a fome, o frio — análogos a todos os outros animais, e existem os sentimentos humanos, também memorizados no inconsciente, e também através dos sentidos, mas estes passaram primeiro pelo consciente ou consciência. Os sentimentos humanos não são inatos como os físicos, mas pelo contrário, aprendem-se. Aprendem-se pela educação (cultura/religião) e valorizam-se ou não na consciência. Conforme se valorizarem na consciência, é também assim que ficam memorizados no inconsciente. E será conforme esses valores que o nosso inconsciente nos vai alertar. No entanto o nosso inconsciente regista tudo, e se nós agora pensarmos de uma forma oposta à que pensávamos no passado, em relação a determinado assunto, se o inconsciente tiver que nos enviar alguma mensagem relacionada com esse assunto, tanto pode corresponder ao que nós agora pensamos como opor-se. E uma mensagem oposta ao nosso consciente provocará conflito [dissonância cognitiva] — se eu não quero chorar e sei que não devo chorar perante determinada situação mas não consigo deixar de o fazer, significa que o inconsciente está a dominar.
Nós devemos respeitar o inconsciente, pois ele é poderosíssimo e não o devemos desafiar, pois ele vencerá sempre. É-nos muito útil na nossa protecção e equilíbrio pessoal, mas nós apenas devemos dar-lhe valor no que respeita aos avisos que ele nos faz. Devemos valorizar mais a consciência.
O nosso consciente, ao contrário do inconsciente, é tudo a que temos acesso pelo cérebro, em perfeito estado de raciocínio, vigilantes e alertas. Quanto mais perfeita, forte e segura, for a nossa consciência, mais estaremos conscientes, e logo, menos possibilidades damos ao inconsciente de intervir.
O inconsciente é importante porque nos defende dos perigos e nos guarda toda a informação do nosso passado. Tem uma capacidade infinita se pensarmos que cada segundo o nosso cérebro recebe dezenas de estímulos ou mensagens, permanentemente, sendo a maior parte delas armazenadas directamente na memória inconsciente, sem nos apercebermos delas.
Mas a nossa vida de humanos, racionais, e conscientes do que somos, tem que ser vivida com consciência, raciocínio, sabedoria, inteligência e saúde. Se nós não temos essa segurança que nos vem da consciência, deixamos caminho aberto para o inconsciente.
Teorias dizem que o nosso cérebro funciona noventa e cinco por cento inconscientemente e apenas cinco por cento conscientemente. Nós vivemos racionalmente com essa pequena percentagem. Se estivermos inseguros, deprimidos, doentes, ou em qualquer estado de consciência alterada, então o inconsciente apodera-se dela e manifesta-se, das mais diversa formas. E se não recuperarmos a consciência viveremos inconscientes, com uma personalidade alterada e demente.
O inconsciente é irracional, os animais também o têm. O consciente é racional, só os humanos têm consciência daquilo que são. É na racionalidade e consciência que nos diferenciamos dos animais, mas por muito racionais que sejamos, o nosso inconsciente será sempre maior que o nosso consciente, porque antes de nós pensarmos, já sentimos, e antes de nós sermos humanos, somos animais.