CASAMENTO
A nossa natureza animal impregnou-nos de uma necessidade biológica e orgânica, semelhante a todos os outros animais, cuja satisfação nos dá o maior prazer, e da forma mais normal e natural, visa a transmissão da vida e a sobrevivência da espécie.
O acto sexual, só normal e natural quando praticado entre um macho e uma fêmea, tendo em conta que o papel principal dos órgãos sexuais é a reprodução, e esta só é possível naturalmente entre um macho e uma fêmea, é o principal objectivo na vida de qualquer ser vivo, sendo ultrapassado apenas pelas necessidades vitais. É tão indispensável a copulação para a vida da espécie como a alimentação para a vida individual.
O ser humano, devido à sua superioridade, compreende uma sexualidade mais vasta, por não possuir ciclos sexuais estabelecidos naturalmente tão restritos como os outros animais, e por devido à sua capacidade mental conseguir condicionar essa sexualidade.
E assim criou regras para os comportamentos sexuais. Definiu como, quando, onde, com quem, porquê e com que frequência se deve copular. Cada sociedade, civilização, ou cultura, definiu as suas regras sexuais conforme os ideais, tradições, interesses, crenças, objectivos e conhecimentos próprios. Por exemplo, na civilização ocidental, de tradições judaico-cristãs, a copulação só devia existir entre um homem e uma mulher, casados para toda a vida, com o objectivo de terem filhos.
O casamento é então a palavra-chave que regula toda a actividade sexual de uma sociedade. Qualquer acto sexual está explícita ou implicitamente relacionado com o casamento, podendo ser aconselhável ou permitido e condenável ou proibido.
O vínculo do estabelecimento do casamento na sociedade foi de tal força — todos queriam casar porque todos queriam parceiros sexuais, porque só entre casados era permitido o acto sexual — que o próprio casamento acabou por ser a base de toda a organização social, nomeadamente para a criação de leis económicas, fiscais e criminais.
O casamento como regulador da actividade sexual só funciona em sociedades de repressão, pois limita o ser humano naquilo que ele tem de mais expansivo a nível comportamental. E assim, apesar do casamento, a actividade sexual sempre existiu fora dele, como prostituição, adultério, incesto, pedofilia, etc. Toda a história está documentada com casamentos incestuosos, filhos bastardos, mulheres adúlteras, sem esquecer, a conhecida, mais velha profissão do mundo.
O casamento apenas legaliza a sexualidade, e dependendo do regime social em que existe, pode permitir desde a poligamia até à homossexualidade.
A versão religiosa do casamento apenas existe porque todo o poder civil partiu do poder religioso e de todos os antigos regimes teocráticos nasceram os actuais regimes liberais e democráticos, como do antigo casamento religioso nasceu o actual casamento civil.
O casamento é um contrato mútuo em que os esposos se comprometem, voluntária ou involuntariamente, a cumprir várias cláusulas oficialmente legalizadas, prévia e socialmente estabelecidas, tais como perfilhação, distribuição de bens e heranças, coabitação, respeito, companhia e fidelidade. Os valores materiais são objectivos e facilmente se repõem na normalidade em casos de ilegalidade ou litígio, mas os valores morais e sentimentais são muito subjectivos e motivo de muito conflito, principalmente quanto à actividade sexual, porque, se o ser humano casa porque deseja sexo, continua a desejar sexo apesar de casado, porque já o desejava antes de casar, isto para além das diferenças individuais e de género.
No casamento apenas está em jogo o desejo sexual e a sua contenção ou satisfação, que depende da mentalidade de cada um, que por sua vez depende da realidade social. O restante — filhos, habitação, família — são consequências.
E muito mais importante que o amor, é o respeito e a compreensão.